De tarde, ao lado de um gradeamento verde que deixa transparecer o interior, a luz amena sobre a frescura da relva que se estende a recortar campos de ténis, e um edifício polidesportivo, desses iguais aos que há por todo o lado, a fazer lembrar a farda de um estudante num colégio estrangeiro, onde a igualdade do traje pretende dissimular hierarquias que acabam por não se desvanecer assim tão facilmente, ainda que o princípio seja de bom tom.
Passou ao lado deste gradeamento verde, do lado de lá da estrada, ladeada por um passeio em calçada prestes a saltar com a chuva do Inverno, de fato cinzento a cambalear a dança de um desvio de sentido, um homem a quem a natureza reservou com certeza um quarto de delírio por perna, em cada passo que dava, em cada metro que se arrastava, num trajecto coerente mas a abanar o tronco como uma palmeira ao vento.
É uma imagem constrangedora quando um fato se passeia nestas condições.
Não fosse o fato e talvez nem tivesse reparado na forma cambaleante do andar.
O fato como algo que pretende dar evidência a uma imagem de estabilidade em sentido lato, começa realmente a entrar em desuso, mas verdade seja dita, há fatos e fatos…
Mas a estranheza de tal figura inquietou-me, talvez pelo enquadramento desportivo, ou talvez pelo cão que se afastou receoso de quem não chegou a frequentar tais aulas de dança. Tudo se afigurou de modo estranho. O sujeito a cambalear com um ritmo apressado, o cão a desviar-se num quase ganir e eu dentro do carro, a pensar na vida e a escrever este texto, que parece esgotar-se com a qualidade de uma peça de roupa que não tenho por hábito usar.
O cão continua perdido, ás voltas, o homem já nem o vejo, o carro já trabalha e o dia está prestes a anoitecer.
Passou ao lado deste gradeamento verde, do lado de lá da estrada, ladeada por um passeio em calçada prestes a saltar com a chuva do Inverno, de fato cinzento a cambalear a dança de um desvio de sentido, um homem a quem a natureza reservou com certeza um quarto de delírio por perna, em cada passo que dava, em cada metro que se arrastava, num trajecto coerente mas a abanar o tronco como uma palmeira ao vento.
É uma imagem constrangedora quando um fato se passeia nestas condições.
Não fosse o fato e talvez nem tivesse reparado na forma cambaleante do andar.
O fato como algo que pretende dar evidência a uma imagem de estabilidade em sentido lato, começa realmente a entrar em desuso, mas verdade seja dita, há fatos e fatos…
Mas a estranheza de tal figura inquietou-me, talvez pelo enquadramento desportivo, ou talvez pelo cão que se afastou receoso de quem não chegou a frequentar tais aulas de dança. Tudo se afigurou de modo estranho. O sujeito a cambalear com um ritmo apressado, o cão a desviar-se num quase ganir e eu dentro do carro, a pensar na vida e a escrever este texto, que parece esgotar-se com a qualidade de uma peça de roupa que não tenho por hábito usar.
O cão continua perdido, ás voltas, o homem já nem o vejo, o carro já trabalha e o dia está prestes a anoitecer.
9 Comments:
Pensa no quadro que acabas de ver e imagina-me do lado de fora do carro, até do outro lado da rua em que estás..eu não visto um fato mas estou elegante e leio um papel com marcas de dobras. No papel encontro as tuas palavras e depois olho para o quadro que pintas com letras e a ritmo irregular. No quadro vejo a grade e vejo o polidesportivo, no ritmo vejo o fato e dentro do fato vejo o homem. Olho para o outro lado da estrada sem pensar no quadro mas apenas porque vi um carro. Lá dentro estás tu e de repente lembro-me de túneis e de pessoas que batem palmas porque atravessam túneis de carro e em velocidade.
Bato palmas em escrita ao quadro que me deste a ver...esqueci-me do cão...não o vi no meu quadro...
Gostei do tu quadro e do meu" Neste dia 22 que anoitece!
Obrigada e sempre é até já?
ah ah ah muito bem, pelos vistos até já.
Beijinhos
Grande ricardo, homem multifacetado com qualidade em tudo o q faz. Gostei do que li!
'O sujeito a cambalear com um ritmo apressado, o cão a desviar-se num quase ganir e eu dentro do carro, a pensar na vida e a escrever este texto, que parece esgotar-se com a qualidade de uma peça de roupa que não tenho por hábito usar.'
:)
Continua, abraço []
lá me indicaram este lugar... dei uma olhadela geral, tens muitas ideias... e não é o "dar pinta de artista"...
É uma imagem constrangedora quando um fato se passeia nestas condições
achei o ambiente desértico e com a passagem dessa personagem fez-me pensar que, por vezes, sem darmos conta, nos encontramos no meio de um mundo que parece estar fora de nós. e não é só ele.
mas também... encontrarmos o enquadramento perfeito de nós é quase impossível.
beijinhos.
RYANN e LILIANA, é bom ter-vos por cá... mais uma vez não é? ah ah ah ah
Obrigado pelo apoio,
Ricardo
É notável como usas metáforas tão impregnadas mas que se bebem na clareza da história. O teu talento nunca deixa de surpreender.
Benvinda Celi. Obrigado.
é Benvindo.
é um moço eheh
(e escreve as melhores palavras q leio na blogosfera)
o Ricardo e' corista ah ah ah ah ah
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