sábado, dezembro 16, 2006

O tempo anda ventoso, chuvoso, dizem que a lua congelou e a roupa que me cobre aparenta ser a suficiente para enfrentar a intempérie. O Inverno edificou-se uma vez mais. Andamos perdidos na lama, todos a dançar uma música diferente. Como se o som desligado revelasse o agitar dos corpos como um prenúncio de distanciamento. Pois ninguém diz nada. Olhamos o passar do comboio. Uma velha locomotiva a disparar fumo que se aloja nos pulmões dos transeuntes.
Os desejos que costumam recair uns nos outros, de uns para os outros, são revestidos dessa película lamacenta que a pele conseguiu conservar, e andamos todos a sonhar em acordar num mundo de fantasia. Plenos de luz e esperança, especialmente agora na época natalícia. Aqui e ali o nascer de mais uma flor anuncia que não servem apenas para cobrir as campas dos que não estão, mas continuam a ser. O luar continua a iluminar a alma. A nostalgia continua a preencher o vazio e a incredibilidade. Agora que as árvores já não existem, e a raridade de uma flor anuncia que ninguém vai dar pela nossa falta, continuamos a olhar o vazio enquanto alguém chafurda na lama continuando o jogo. Até que uma personagem estranha me convida a participar. Que se lixe! Que posso eu perder mais se agora chafurdar um pouco mais fundo na lama como todos os outros. Afinal, já somos tantos. Somos muitos…
Acabei de olhar para ele e lembrei-me que o seu irmão morrera de amor. Alguns chegam a acreditar que se podia ter libertado, mas eu conhecia-a demasiado bem. O pobre coitado não teve alternativa. Invariavelmente a cruz tornou-se maior que o corpo e acabou por falecer.
Continuo a chafurdar na lama com o melhor fato e a beber um bom champanhe. Sempre gostei de música…
Acabei de me juntar ao circo e agora neva em cima de toda a orquestra. Toda a gente sabe que pertence ao circo de uma maneira ou de outra.
Por aqui, o perfume que se aplica esconde a podridão das rosas. A roupa esconde a falta de um quarto. O rebanho anda à solta pela montanha. Os diamantes são de plástico e as lágrimas de dentro escondem-se num sorriso. A guerra é feita para edificar um muro que não tinha de existir. E sem ter que estar próximo do cume da mais alta das montanhas posso avistar o desespero do formigueiro a chafurdar na lama.
É só uma impressão minha ou anda tudo louco?!
Tudo louco. Dentro de todas as janelas e de todas as portas.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Correndo o risco de que me tomes por (ainda mais) infantil, não tenho vergonha nenhuma de te dizer que chorei ao ler o teu texto.
POr várias razões: interpretei-o (é certo), mas a realidade que se fez em mim foi difícil de ser interpretada. Percebi o que queres dizer e se o que eu percebi é o que realmente queres dizer, então sim, chorei porque me assustei.
Chorei porque tenho saudades de te ouvir a falar comigo. Quase nem te conheço mas tenho saudades das vezes em que falamos, foram sempre boas as conversas, ainda que sempre assim, realmente assustadoras.
Chorei pela tua noção, por saber que sabes o que anda aí, à tua volta e nessa lama cruelmente desejada e saborosa.
Não resisto a chamar-te a atenção para estas passagens, espera, relê-te:
"Os desejos que costumam recair uns nos outros, de uns para os outros, são revestidos dessa película lamacenta que a pele conseguiu conservar, e andamos todos a sonhar em acordar num mundo de fantasia."
Andamos todos? Acreditas nisto Ricardo? Achas mesmo que se apercebem que é lama e que não preferem continuar a achar que só é chantilly?
"Que se lixe! Que posso eu perder mais se agora chafurdar um pouco mais fundo na lama como todos os outros. Afinal, já somos tantos. Somos muitos."
Pois somos os humanos somos muitos. Mas esses de que falas são os eleitos e esses são menos,ainda assim contam para algo, para aborrecer o pessoal e para lembrar que não há assim grande diferença dos níveis de inteligência de quem morre de amor ou de falta de personalidade.

"Acabei de olhar para ele e lembrei-me que o seu irmão morrera de amor."

Desculpa o tamanho do comentário mas eu chorei e tenho mesmo saudades tuas!
Escreve, escreve mais.
Fica muito bem e vê lá se arranjas os links para os nossos blog's ok?
Bjocas. Ao sul está frio, muito frio. Quase não há gente, mas lama há, e muita!

16 dezembro, 2006  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Olá Tânia, obrigado por leres os textos. Também gostei das poucas conversas que tivemos. Não tenho ideia de seres infantil... mas isso é indiferente... parece-me que as pessoas reeducam o estar, mas conservam a mesma idade uma vida inteira. Ou talvez não... não sei! Mas não importa. Eu pelo menos estou farto de julgar e ser julgado. Havemos de nos encontrar um dia para falarmos um pouco mais.
Quanto à lama... nem sei que te diga.
Obrigado, e desculpa pelos links, continuo o mesmo atadinho de sempre!!!!

17 dezembro, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O rebanho nem na montanha anda à solta meu caro: os senhores de que te falei, os que mexem os cordelinhos: o nome é Bilderberg

vê em History Channel: Bilderberg Part 1
http://www.zippyvideos.com/4866834453038626/bilderberg-history-channel/

29 dezembro, 2006  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Grande Ricardo, bem vindo!!!!!
Vou ver isso, lembro-me da nossa conversa!
Abraço.

29 dezembro, 2006  
Blogger Noa said...

Aí está: " A nostalgia continua a preencher o vazio e a incredibilidade."
O problema está exactamente aí: o vazio fica cada vez maior e torna-se impossível preenchê-lo. N\ao adianta tentar pois não conseguem. É em vão.
Resta-nos chafurdar na lama. Ou morrer de amor.

Um beijo pra vc e muito bom ano de 2007.
:o)

02 janeiro, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Ando um mal educado!!!
BOM ANO PARA TODOS!!!!
Espero que tenham um grande 2007!
Beijinhos e abraços

03 janeiro, 2007  

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