sexta-feira, abril 13, 2007

Abre-se a porta devagar, a suar o cheiro de tudo o que ficou para trás, onde a oleosidade das coisas se desvaneceu e tudo começa a condizer com o metal, em ouro velho, onde tudo é velho à nosso volta e nós mais velhos ainda. O corpo treme a contorção dos ossos, dos dentes dormentes e trilhados a sentir apenas um formigueiro febril.
Os olhos vão pesando até deambularem pelas órbitas como se não tivessem rumo, e a temperatura das pontas dos dedos, geladas como o gelo do gelo e o gelo do gelo das pontas dos meus dedos.
A porta aberta e todos a olhar, e de todos, reconheço um ou outro que me dizem ser família. Todos com ar de ainda é cedo e a minha vertigem, a minha febre na minha vertigem, aparentemente com ar de ainda é cedo. E o sulco na cara por onde costuma entrar o ar. E a água que parece não ter fim. Bem usada, seria usá-la para envenenar uma aguarela. Podia diluir o pigmento nesta goma virulenta. Apodrecer as cores. Partir um corpo em rhíza como a figura de um craquelet!
O peso dos olhos, do sono, da liberdade cansada do cansaço do corpo. Todos eles com ar de um amanhã que ainda é cedo. Eu a beijar as mãos daqueles outros que também fui no passado. Todos nós num só a escrever que ainda é cedo, e a devolver ao tempo o movimento que lhe pertence. A luz do sol sobrepõe sombras. Sombras nas sombras. As sombras das sombras.
Fechei a porta porque aparentemente ainda é cedo.
O comboio que não vem.
O chão abateu na forma dos sapatos. Espero o final da semana com estearina derretida nas mãos, sem perfume, a cobrir a pele como pele na pele.
Tchin com tchin o barulho da máquina que me vem buscar… tchin com tchin
Todos a bordo… Não. Falto. Eu.
Uaaap é Napoleão que lá vem numa crina branca, como a acidez fétida de uma doença ao tentar passar-se por algodão doce.
Uaaap que lá vem o Corso!!!
As fábulas de criança em tom de crítica e o mercado a instigar o nado-morto. Tudo morto. As árvores livres desde que são árvores. As flores livres desde que são flores. Nós livres, desde que arrancamos árvores e colhemos flores.
A verdade. O olhar da presa. O olhar do predador.
Uaaap que lá vem…

18 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Levaste-me a um cenario fantabulastico..a floresta do capuchinho vermelho, o ensinamento da morte, os irmaos perdidos noutra floresta e o medo de aparecer em palco na primeira festa da escola. A avaliaçao e a prestaçao das provas em que temos que ser apenas o que querem de nós?Andei por estes caminhos todos que criaste com este texto, agradeço-te pela viagem à infantilidade e na idade adulta em que nao me reconheço, sorrio e sim, ainda é muito cedo para acordar! Fecho a porta e digo a todos até amanha..logo continuamos e os cheiros e as cores em que me vi...bem, tens mesmo que escrever mais e com mais frequencia Ricardo!
Senti saudades das tuas palavars e destes cenarios construtivos literarios em que sempre me sinto tao bem, tao em casa e é sempre tudo tao familiar!! So tenho pena que este teclado nao seja portugues e que nao possa colocar acentuaçao, tenho pena mas as universidades estao em cortes orçamentais!
Va, fica bem, até a proxima fabulaçao internetica. Bjocas

13 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Ricardo que satisfação em ver seus escritos num blog , admiro vc e tdos da banda Toranja ..
Vou estar aqui sempre..
Fiquei ate emocionada agora !!!
lindo post.....
bjus

15 abril, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Olá Fabiola!
É costumo escrever aqui umas coisitas para tentar manter a forma!
Obrigado.

15 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

um beijo cheio de saudades desta tua eterna fã q te aplaudiu muitos e muitos dias na 1ª fila. sinto saudades de tudo o que ficou no lado quente da saudade. mas agora quero rizoma e o q vier das tuas mãos.
costumou-me aceitar e apesar de já ter o teu blog nos links da mia chuvadiluviana há algum tempo só agora consegui vir cmentar, deixar-te 1 abraço dakeles dos amigos.
cm os toranja foram pra mim.
beijos
polly maggoo

20 abril, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Olá Polly!!! Fizeste muito bem em comentar.
Já não nos vemos há muito!
Sim, tenho imensa gratidão pelas ditas linhas da frente!!! São todos pessoas que eu respeito muito, e tenho a agradecer!
Espero que venham a gostar de Rizoma!
Beijinhos, e vai aparecendo!

20 abril, 2007  
Blogger Liliana Bárcia said...

tudo vivo... a mim esta "estória" leva-me a recordações de um passado não tão distante qto isso, mas já razoavelmente longe para deixar saudade. como aquele comboio melodioso que eu apanhava, sempre cheio de gente (melodiosa também). não faltava lá ninguém, mesmo os que não estavam dentro do comboio sabiam que o comboio chegava sempre e, quando apitava, ouvia-se música.

era como que um encanto.

mas os comboios a vapor têm sempre de parar. Onde se foi buscar tanto carvão?

agora estamos na época onde os comboios só fazem barulho quando avisam que fecham as portas e os maquinistas, esses, fechados dentro de um cubículo, apenas se dão ao trabalho de o fazer parar em cada estação. levam o jornal e, talvez, café trazido de casa (já frio... café acabado de fazer é tão bom!) ou umas bolachas para ir enganando a fome.

mas ninguém esquece os comboios a vapor, onde o maquinista apitava com estrondo que o comboio ia partir! gentes à janela a acenar! gentes na plataforma a acenar tb, de lenços em punho. sempre sorrindo... aquele som (daquele comboio em especial) punha qualquer um a sorrir.

mas parou. o tempo passou. nem sequer os carris são os mesmos... o progresso agora traz comboios tão rápidos que ninguém os vê.

E silenciosos.

faz tanta falta aquele comboio movido a carvão...

24 abril, 2007  
Blogger Liliana Bárcia said...

P.S.: isto é daquelas coisas que uma pessoa não entende pq. escrevi, escrevi.. devaneio ou lucidez?

ambas.

post scriptum pq acabei de ver o calendário.
24 de abril - lá estava eu, por mero acaso no Largo do Carmo. sentei-me ao longe, a ouvir pela 1a vez.

obrigada.

beijinhos.

24 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei tanto tempo para comentar isto ... porque é escrito por ti, é saudade que queima e reabre cicatrizes. Mas não podia ficar indiferente, está demasiado bonito para ler sem to dizer.

Obrigado, "frutas"

26 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Olá Ricardo!!!
No fim de tantas visitas, aqui fica um comentário.
Aqui fica o meu desejo de que este blog continue. É bonito saber de ti. Saber o que te preocupa, o que vives e olhas e sentes. Ou talvez nao saber mas sentir. Mesmo quando fechas a porta "porque aparentemente ainda é cedo" já deixas-te sair tanta coisa...
Obrigado por esta partilha, que fica para além da distancia, para além do tempo que tao depressa passa (já lá vao dois anos)e que fica para além destes minutos ao monitor. Fica porque a vejo como a ti e porque a vou recordando quando saio do job, quando me sento com a viola na varanda que fica para o parque ou quando cheira a óleo cá em casa.
é bonito poder pensar noutras coisas e imaginar e saber

um abraco
jorge

26 abril, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Olá Ana,
obrigado pelo comentário.
Sem tanta esitação...
Obrigado.

26 abril, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Grande Jorge!!!!!!! Pois é, desde que o curso acabou, foste para a Alemanha com os óleos e as telas atrás, e passaram-se estes anos em menos de nada... Recordo imenso o tempo do curso!!! Um dia destes vou aí fazer-te uma visita!
Abraço para ti e beijinhos para a Viola!
Quando Casam?! ah ah ah ah ah ah

26 abril, 2007  
Blogger Bíola :) said...

Oie querido e ainda me respondeu iupppppppppppppp hauhaua
adoro...
espero ver novos trabalhos em breve e que venha ate o Brasil e eu possa ter a satisfação de conhece-lo pessoalmente ..
bjus

13 maio, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Sr. Ricardo FRutuoso: acabe lá de organizar e de fazer os últimos arranjos ao album de Rizoma, deixe um tempinho entre os Radio Macau e o resto todo e por uns minutos...respire e escreva aqui um bocadinho! Já tenho saudades de um bom texto para depois deixar um comentário. O.k? Bjocas e fica bem!

02 junho, 2007  
Anonymous Anónimo said...

epa ricardo acreditas que so agora é q consegui ir ao myspace dos rizoma ouvir-vos? tenho andado cheia de trabalho mas de hoje prometi q nao passava. so te digo uma coisa, TENHO FOME DEMAIS e quero ver-vos em palco brevemente pá fiquei cheia de vontade de abanar o capacete e de vos aplaudir, se nao vender q se foda cm diz o dodi, mas pelo menos uns quantos malucos na linha da frente vão ter de certeza e eu vou tar lá. tenho saudades tuas e do dodi. espero q estejam bem a trabalhar no q vos dá imenso gozo q é a musica e sobretudo sabendo q andam a preparar estas coisas brutais p nós então fico mt contente por vocês amigos.
força quero msm ver-vos ao vivo.

metes o tiago a um canto caraças!

eheheh

se o paulo vê isto sou fuzilada mas q se lixe as verdades são p se dizer e a censura acabou no dia 25 de abril de 1974.

beijocas a todos e um abrço apertado para ti e pro dodi.

polly maggoo

16 junho, 2007  
Blogger Ricardo Frutuoso said...

Não te preocupes que aqui não há lápis azul!!!!!!!!!
Ah ah ah ah
Espero que estejas bem.
Obrigado pelo apoio... aliás como sempre!!!
Beijinhos.

20 junho, 2007  
Blogger Noa said...

Noosssa, isto aqui anda mesmo movimentado! Já tinha saudades das tuas letras. Mas ainda venho a tempo de dizer que mais uma vez gostei do texto, das emoções provocadas, do som e do movimento. Gostei do que senti.
Não devia ficar tanto tempo sem escrever, sabia? Já nos habituou mal, ihihihihihhiE
Pra quando uma actualização??? Heimnn?? Fica com uma beijoka

18 agosto, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É óptimo poder haver este espaço em que mostras um lado de ti que não conhecíamos. Sempre te conhecemos agarrado à guitarra, à tela, ou com a simpatia estampada no rosto. Agora podemos ler o que escreves - muito bem :)

beijinhos
Take care


Bárbara F.

07 novembro, 2007  
Blogger chica-cocodrilo said...

Olá Menino!
So deixo um beijo desde España, nao escrevo mais pq o meu portugues é cada dia pior, e nao quero sujar o teu blog.
So dizer te q ainda lembro me de ti.
tudo de bom para ti.

mil beijinhos.

25 novembro, 2007  

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